A rede municipal de Saúde de Paranaguá voltou a realizar, na terça-feira (18), os exames de audiometria. O procedimento, que serve para avaliar a audição e identificar possíveis perdas auditivas, passou a ser disponibilizado no Complexo Nazir Chimura Borba – localizado onde funcionava a Copel, no Centro Histórico da cidade.
“Quando eu era criança, os meus pais não tinham um local adequado de fonoaudiologia, nem de audiometria. Aqui em Paranaguá não tinha e eles me levaram até Curitiba. Hoje, nós temos para todas as pessoas”, disse a secretária municipal de Inclusão, Isabelle Dias – que é surda, durante a solenidade de inauguração da sala onde o exame passou a ser disponibilizado.
Além da sala de audiometria, também foi inaugurada uma sala de fisioterapia, no Complexo. A secretária de Saúde, Patrícia Scacalossi, falou sobre o retorno do serviço.

“O aparelho de audiometria foi adquirido em 2023. Ele funcionou por um tempo dentro do Cmae [Centro Municipal de Avaliação Especializada] e depois parou de funcionar. Então, que logo assumimos a gestão detectamos que esse aparelho estava sem funcionamento. Promovemos a manutenção desse equipamento e a qualificação desse equipamento, que é um dos mais modernos do sul do Brasil”, afirmou.


INVESTIMENTOS, SEGUNDO A PREFEITURA
Ainda segundo Scacalossi, foram necessários investimentos na casa dos R$ 100 mil para que o serviço voltasse a ser disponibilizado pelo Município.
“Então, foram investimentos de mais de R$ 100.000 em manutenção e instalação do programa. São exames que podem custar até R$ 800 por paciente. Exames extremamente caros que agora vão ser fornecidos, vão ser facilitados através do SUS, através da secretaria municipal de Saúde de Paranaguá”, declarou a secretária.
“É um trabalho da secretaria de Saúde para chegar a esse dia de entrega que vai proporcionar a realização desses exames e da fisioterapia. O complexo já tinha sido adquirido pela gestão anterior, mas vocês viram que algumas salas não haviam sido terminadas, nós terminamos e entregamos para a população. Não podemos ter um equipamento que foi adquirido lá em 2023 e ser colocado à disposição da população somente em 2025, a gente tem pressa”, endossou o prefeito Adriano Ramos (Republicanos).


INFORMAÇÕES NÃO BATEM
Porém, ao contrário do que as declarações afirmaram, o equipamento funcionou de março de 2023, quando a cabine de realização foi inaugurada no Cmae, até agosto de 2024. De acordo com a ex-secretária de Inclusão, Camila Leite, o serviço atendeu a uma demanda reprimida que havia na cidade.
“Foram atendidas mais de 120 crianças, entre março de 2023 e agosto de 2024. E o investimento feito pela Prefeitura, à época, foi de quase R$ 53 mil”, disse Camila, ao JB Litoral.






A sala de audiometria, inaugurada em 30 de março de 2023, teve ampla cobertura da imprensa. Já os investimentos mencionados por Camila Leite, foram de R$ 52.881,58, os quais compreenderam a cabine acústica (R$ 6.231,58), onde os pacientes ficam para a realização dos testes; o aparelho audiômetro (R$ 17.500,00), acompanhado de todos os acessórios e programas de funcionamento; e o imitanciômetro (R$ 29.150,00), também com os demais dispositivos que garantiam o funcionamento adequado, tais como impressora térmica acoplada, interface do equipamento com o computador, display e armazenamento de dados.
Para que o serviço pudesse começar a ser ofertado em março de 2023, o processo de aquisição começou ainda em 2020, com a licitação, seguida dos recursos empenhados para a compra e instalação dos equipamentos. Conforme as notas de empenho a que o JB Litoral teve acesso, uma foi de R$ 46.650,00, para aquisição e instalação do audiômetro e do imitanciômetro, datada de 22 de julho de 2021. A segunda nota corresponde à compra e instalação da cabine acústica, no valor de R$ 6.231,58, de 6 de outubro de 2021.
MANUTENÇÃO
Em julho de 2024, uma empresa especializada (Master Audiologia Ltda) foi contratada para manutenção de rotina nos equipamentos.
“Contratação especializada em realizar a calibração do audiômetro e da cabine audiométrica, com o objetivo de garantir que o audiômetro, o impedanciômetro e a cabine audiométrica estejam funcionando corretamente e que os resultados dos exames audiométricos sejam precisos”, detalha a ordem de compra 2913/2024.
Segundo a Lígia Cordeiro, ex-secretária municipal de Saúde, não havia falhas nos equipamentos que os tornassem inoperantes.
“O equipamento não estava parado por falta de manutenção. Conforme documento de calibração do audiômetro e cabine audiométrica emitido em 2024, os equipamentos estavam operacionais e passaram apenas por ajuste técnico para garantir a precisão dos exames. Ou seja, os equipamentos já estavam prontos para uso neste exercício do atual prefeito, não sendo necessário qualquer reparo significativo ou ajuste que justificasse a alegação de que estavam inoperantes”, alegou Lígia.
Para a ex-secretária, não há justificativa para as diferenças de valores mencionados.
“O valor total investido na aquisição foi de um pouco mais de R$ 50 mil, o que contradiz a informação divulgada de que o equipamento teria custado R$ 100.000,00. Além disso, a mudança para o Complexo Nazir Chimura Borba não representa a implementação de um novo serviço, mas apenas a realocação de equipamentos que já estavam em funcionamento e cumprindo sua função na rede pública de saúde”, reforçou.
Lígia também afirmou ao JB Litoral que o serviço só não foi implantado ainda em 2021 devido às restrições da pandemia de Covid-19.
“A inauguração do serviço foi postergada, pois a prioridade era o enfrentamento da crise sanitária. No começo de 2023, os profissionais de Fonoaudiologia responsáveis pelo manuseio dos equipamentos passaram por treinamento técnico específico, garantindo a correta operação dos aparelhos”, completou.
Sobre as inconsistências apontadas pelas ex-secretárias e checadas pela reportagem, o JB Litoral entrou em contato com a atual Administração Municipal, mas não obteve as respostas até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.