Divulgação
Acessibilidade
Aos 37 anos, Viviane Meister soma mais de uma década de experiência no setor administrativo, com passagens por empresas como Santander, Itaú e idwall. Mas foi há apenas dois anos que a cuiabana mergulhou de vez no empreendedorismo. Ao lado de Bruno Alano, o primeiro e mais jovem brasileiro a trabalhar na OpenAI, Meister cofundou a Avra, uma deeptech que combina inteligência artificial e análise mercadológica para ampliar o acesso à crédito por pequenos e médios empreendimentos no país.
“Antes de fundar a Avra, todos os CTOs que eu conhecia me apresentavam soluções prontas. Eu dizia: ‘Gente, crédito desse tipo existe desde a década de 1980. Vamos fazer diferente.’ E o Bruno trouxe essa visão desde o início”, conta a CEO. “Começamos assim, com uma especialista em crédito e um pesquisador em IA olhando para um problema enorme no Brasil, na América Latina e no mundo: fazer negócios com PMEs.”
Embora representem 90% das empresas brasileiras, cerca de 48,84% das pequenas e médias companhias enfrentam dificuldades para obter crédito no Brasil, segundo dados da Serasa Experian.
Como reforça Meister: “O mercado mede as PMEs com a régua que conhece, mas esse modelo não funciona. Uma pequena loja de bolos, por exemplo, não vai ter um balanço auditado.”
Modelo de IA especializado em PMEs
O diferencial da Avra está em seu modelo de inteligência artificial fundacional próprio, construído do zero com uma base de dados diversa. “Trabalhamos com três frentes: dados tradicionais, como informações sobre processos e protestos; dados alternativos, que incluem imagens de satélite da empresa e da região, além de previsões de compra e pagamento; e dados relacionais, que analisam o relacionamento do negócio com seus fornecedores.”
Para Viviane, a combinação dessas camadas com a modelagem preditiva de IA resulta em uma nova abordagem para análise de crédito. “Criamos uma arquitetura específica para entender pequenas e médias empresas. Assim, conseguimos gerar informações mesmo sem dados estruturados.”
A tecnologia permitiu que a startup alcançasse o marco de 99% das PMEs brasileiras catalogadas. Agora, o foco é levar essa estrutura de conhecimento a grandes instituições financeiras e corporações. “Hoje temos oito clientes, todos líderes em seus setores”, destaca Viviane.
Startup com DNA nacional
Com quase dois anos de operação oficial, a Avra levantou um aporte de US$ 2 milhões, liderado pela MAYA Capital, em uma rodada de financiamento concluída em maio de 2024.
No entanto, a construção de um modelo proprietário de IA exige investimentos que vão além do dinheiro. Para isso, a deeptech conta com a aceleração de gigantes como AWS, Nvidia e Google.
“Obviamente, o investimento que recebemos ajuda muito. Mas os parceiros técnicos nos oferecem um arcabouço de conhecimento”, pontua a CEO.
Com um time de 25 profissionais, a maioria da área de tecnologia, a executiva reforça que o crescimento não muda o propósito de manter a Avra como uma empresa brasileira independente.
Segundo Bruno Alano, o momento é ideal para a startup surfar a “segunda grande onda da IA”. “Nos grandes modelos de linguagem, os vencedores já estão definidos. Agora, entramos em uma era de modelos menores e mais contextualizados. Quando você especializa a IA, os ganhos são muito maiores”, explica.
O primeiro brasileiro na OpenAI
A trajetória de Alano começou cedo. Aos 8 anos, ele ganhou notoriedade na cidade de Colombo, Paraná, onde morava com a família, após “hackear” um jogo de videogame. A história foi exibida na televisão e chamou a atenção do cônsul da Finlândia no Brasil.
“O governo finlandês me ofereceu uma bolsa de estudos. Então, aos 15 anos, fui para Helsinque estudar tecnologia. Na época, o campo da inteligência artificial passava por uma virada, dos modelos clássicos para os mais complexos. Foi aí que entrei nesse universo e comecei a me especializar em processamento de linguagem natural”, relembra.
Como o setor ainda era incipiente, aos 16 anos, quando voltou ao Brasil, em 2012, Alano fundou sua primeira startup de IA voltada para grandes empresas, a Leadster. Quatro anos depois, foi convidado pela OpenAI para integrar a equipe de pesquisa em aprendizado de máquina e linguagem natural.
Filho de pequenos empreendedores, o CTO viu na interseção entre tecnologia e impacto social um propósito de vida. “Como empreendedor, você pode resolver problemas e mudar um pouco da realidade. Na minha vida, em vários momentos, consegui fazer a diferença porque estava no lugar certo, na hora certa”, conclui.