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A revolução da inteligência artificial não é impulsionada apenas pelo progresso tecnológico. Os padrões éticos e os marcos legais adotados por governos, empresas e indivíduos terão uma influência igualmente significativa.
O papel da sociedade é estabelecer o que é ou não aceitável, enquanto cabe aos legisladores implementar e fiscalizar as regras de forma que estimulem a inovação e, ao mesmo tempo, reduzam o potencial de danos.
Esse é um terreno novo para praticamente todos, e o avanço tem sido inegavelmente irregular quando se trata de definir e manter padrões. Mas o comportamento ético e as barreiras robustas não são “opcionais”; são essenciais se quisermos aplicar a IA com sucesso para resolver os maiores problemas do mundo.
A seguir, estão as tendências que, segundo minhas previsões, irão impulsionar a adoção social daquilo que pode ser a revolução tecnológica mais transformadora de nossas vidas, durante o ano de 2026.
A questão dos direitos autorais
Se a IA é treinada com conteúdo protegido por direitos autorais criado por humanos, os criadores não deveriam ser compensados? Muitos certamente acreditam que sim. As soluções propostas incluem opções acessíveis de exclusão, sistemas transparentes que permitam aos criadores conceder ou retirar consentimento e modelos de divisão de receita. Processos judiciais ainda estão em andamento e têm apresentado resultados variados, com decisões este ano favoráveis tanto a empresas de IA quanto a artistas. A esperança é que, em 2026, comecemos a ver mais clareza em torno desse tema delicado, resultando em um ambiente mais justo para a IA, sem impor restrições à inovação.
Barreiras legais para agentes autônomos
Os agentes de IA — ferramentas autônomas capazes de executar tarefas complexas com mínima interação humana — levantam questões importantes sobre até que ponto estamos dispostos a permitir que as máquinas tomem decisões por nós. Até onde elas devem ir sem supervisão humana, e quem é o responsável quando algo dá errado? Sem limites e diretrizes claros, há o risco de que suas ações nem sempre estejam alinhadas com nossos melhores interesses. É provável que temas como níveis de autonomia estejam na pauta dos legisladores em 2026, à medida que consideram o grau de supervisão humana necessária e as penalidades aplicáveis quando organizações permitem que máquinas ajam de forma irresponsável.
O impacto no emprego
Já está claro que a IA está impactando os empregos humanos, com uma queda relatada de 35% nas contratações para cargos administrativos e de apoio de nível inicial. Muitos argumentam que os empregadores têm uma responsabilidade ética de responder a isso implementando programas de requalificação e aprimoramento profissional. Governos e legisladores, por sua vez, tentarão lidar com os impactos sobre os direitos dos trabalhadores, além de exigir que o dinheiro economizado com cortes de pessoal impulsionados pela IA seja usado para mitigar os efeitos sociais das demissões humanas.
Responsabilidade e prestação de contas
Quem é, em última instância, responsável quando a IA comete erros? São os criadores das ferramentas de IA? Os humanos que forneceram os dados usados no treinamento? Ou as pessoas e organizações que utilizam essas ferramentas? No momento, não há regras claras. Entre as medidas em discussão está a exigência de que as organizações que usam IA garantam que a responsabilidade final recaia sobre um humano, que possa ser responsabilizado por danos causados por vieses, alucinações ou decisões equivocadas. Resolver essa questão será prioridade para empresas e legisladores em 2026.
Padrões globais
A IA é uma tecnologia global e opera além das fronteiras. No entanto, a regulamentação destinada a limitar os danos que ela pode causar depende de cada país, o que gera desencontros e falta de responsabilização. A União Europeia, a China e a Índia estão entre as nações que já introduziram leis nacionais sobre IA, enquanto os Estados Unidos têm abordado o tema em nível estadual. Mas essas regulamentações variam em escopo e foco. Garantir um consenso internacional e um marco que permita regular a IA de forma eficaz em todo o mundo será um tema quente nos próximos 12 meses.
Conteúdo sintético, deepfakes e desinformação
A IA permite a criação de grandes quantidades de conteúdo, mas nem sempre ele é valioso ou preciso — e, muitas vezes, pode ser abertamente perigoso ou prejudicial. Frequentemente, é usado para espalhar desinformação, minar a confiança em instituições democráticas ou ampliar divisões sociais. Enfrentar esse problema é uma responsabilidade de todos nós. Como indivíduos, teremos de aprender a pensar de forma crítica sobre as informações que confiamos e compartilhamos em 2026. Já os legisladores devem redigir leis que incluam a rotulagem obrigatória de conteúdo gerado por IA e a criminalização de deepfakes criados com intenção de causar danos.
Políticas organizacionais e governança
Em 2026, é provável que mais organizações percebam os perigos do uso não autorizado ou não monitorado de IA por parte dos funcionários. A corrida para implementar códigos de conduta e políticas de boas práticas será prioridade para os departamentos de RH em todo o mundo, enquanto os trabalhadores serão incentivados a compreender os princípios de uso seguro, ético e responsável da IA. As empresas que não fizerem isso correm o risco de aumentar sua vulnerabilidade a ataques cibernéticos, violações de direitos autorais, penalidades financeiras e, talvez mais grave, uma perda potencialmente fatal da confiança dos clientes.
Resolvendo o “problema da caixa-preta” da IA
Os algoritmos de IA são tão complexos que muitas vezes é muito difícil saber com certeza como eles tomam decisões. Essa falta de transparência é, às vezes, agravada pelo fato de que seus mecanismos internos são deliberadamente mantidos opacos para proteger os interesses comerciais dos provedores de IA. Isso dificulta para usuários e reguladores entenderem se as decisões são justas. Resolver esse problema é essencial se quisermos usar a IA em tarefas que possam impactar vidas humanas, como decisões médicas ou financeiras. Em 2026, é esperado que haja pressão sobre os desenvolvedores para adotarem princípios que promovam a IA explicável e que as organizações implementem métodos de auditoria da transparência em seus processos de tomada de decisão orientados por IA.
A ética em IA deixou de ser uma conversa paralela; ela é a base da inovação e da confiança pública. As organizações que prosperarem em 2026 serão aquelas que incorporarem ética e governança em cada decisão envolvendo IA, tratando transparência, responsabilidade e justiça como prioridades centrais de negócio — e não apenas como itens de conformidade.